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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Vinte e dois por cento.

Hoje é 16 de janeiro de 2009, fazem três ou quatro dias que sou bloggeiro, a convite de meu inusitado amigo Cimitan. E, junto, veio-me a necessidade de começar a bloggar. Resolvi, parafraseando o grande escritor Rilke, em suas "Cartas a um Jovem Poeta", começar escrevendo uma carta. Desta vez, para minha Flôrr.

Minha Flôrr

Eu tinha vivido pouco mais de 23.000 dias, e não tinha do que me queixar. Formei-me na Escola que escolhi, meu esalqueano orgulho, tive e tenho uma vida profissional normal, nem tanto o céu, nem tanto a terra, filhos que só me dão satisfação, genro e nora nota dez, e um neto lindo. Por enquanto.

Fui casado longos anos, quase todos felizes, assim eu sentia, e que terminou por desamor. Muita gente não percebe, mas como existe o amor, também existe o desamor.

E tais 23.000 dias, fiz as contas usando o cálculo combinatório e a lei das probabilidades, dá 78 % de vida. Restam 22% pela frente. À primeira vista, assustei, achei pouco. Depois, vi que " era o bastante", viva, mas tinha que ser bem aproveitado.

E vi-me numa encruzilhada.

Em março daquele ano, eu estava triste e só. Só e sem perspectivas, quando meu irmão, vendo-me daquele jeito, convidou-me a viajar a Portugal, mas impôs uma condição, queria passar em Fátima e fazer um pedido à Nossa Senhora.

Eu nunca fui de fazer promessas, mas já que estava lá, aproveitei. Numa manhã fria, comprei uma vela daquelas bem compridas, de cinco euros, já que estava lá, fazer bem feito.

No altar da capelinha junto à Basílica, ele, compenetrado, comprou meia-dúzia, também das longas. Não lhe perguntei, nem ele me disse, de seus pedidos. Logo percebi que eram importantes, uma questão de fé.

Até aquele momento, ajoelhado diante da imagem da Santa, eu não havia pensado no meu pedido. Com a vela segura pelas duas mãos, acesa, não via nada que Ela podia me ajudar, eu estava "deprê"

Em todo caso, olhei nos olhos d'Ela, e pedi:

- Dona Santa, eu quero que a Senhora dê um jeito na minha vida sentimental, o resto vai bem. Preciso viver um grande amor, ainda tenho muita lenha prá queimar nesses 22% que sobram.

- Estou desperdiçado, disse. Ela riu.

Virei as costas, manhã gélida, dia lindo, sol e céu azul, não pensei mais no assunto. Dali fomos visitar a biblioteca da Universidade de Coimbra, almoçar no Pedro dos Leitões e dormir no Buçaco.

Esqueci Fátima, aquela vela ficou dias a queimar.

Contudo, a Santa de mim não esqueceu.

Menos de um mês depois, fui ao casamento da filha de um amigo. Na festa reencontrei um amigo de infância, "puxa, quanto tempo, você não mudou nada !". Quando a conversa já estava minguando, ele puxou pelo braço uma morena que passava, tomara-que-caia branco, colo de seio maravilhoso, linda. Apresentou-nos e foi direto ao assunto:

- Vem cá, vocês tem que se conhecer...

E foi embora.

Lá em Portugal, Fátima piscou, mandou-me um recado:

- Seus 22% estão salvos, agora só depende de vocês.

Fiquei devoto.

De lá para cá, quase dois anos, a alegria e a leveza tomou conta de mim. Em poucos dias vi que era correspondido. Fato relevante. Meu olhar brilhou, o dela também, e nossos corações recomeçaram a bater, outra vez, com esperança.

Voltemos a Fátima, acender outra vela, pelo nosso futuro, e agradecer.

Um beijo.

8 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Meu caro Aloísio,

fico muito contente que tenha iniciado seu blog!
Faltava a primeira postagem para abrir lugar para os comentários.
No da sua Vitória Régia, o blog TOTOCA ainda não tem, e tive que reclamar do ROBERTO por e-mail...
Seu texto é espontaneo e gosto do jeito que conta os causos! Sei que vou gostar de vir aqui. Agora precisa atualizar sempre, caso contrário fica às moscas de visitas e comentários!
No seu caso basta avisar a família que só eles darão boa audiência!
Sucesso na nova empreitada!
No Varal de hoje e agora 18:15 na primeira página tem um cabeçalho notavel. Veja lá se gosta!
Forte abraço

james emanuel de albuquerque disse...

Muito interessante.

Um abraço.

Ƭ. disse...

Olá.

Belo texto.

Sucesso garantido.

Felicidades pra vc e sua Florr.

Anônimo disse...

Aloísio,

com as fotos que recebi da Vitória, você bem que poderia ter ilustrado um bom texto sobre a Oficina Brennand.
Mãos à obra!

Anônimo disse...

Obrigado à TOTOCA por SEGUIR o Varal. Tentei agradecer no devido lugar, mas lá ainda não tem postagem nem lugar para se deixar os comentários!

Anônimo disse...

Brilhante e emotivo.

Marcos Junqueira Netto disse...

Escrito com muita sensilidade,qualidade que sei que vc tem em demasia.

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