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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

RAN-CAHY


RAN-CAHY

Quando as minas de ouro das Gerais minguaram, os habitantes daquelas cruzílias foram obrigados a arrumar outros serviços, viraram pecuaristas, e até agricultores. Passados cem anos suas terras começaram sentir, não havia adubo, curvas em nível, nem agrônomos.
E agora ?
O remédio foi imigrar, seguir a vida. Então, duzentos anos atrás, Chico, sua mulher, filhos, escravos, periquitos e papagaios, sementes e gado, tiveram que procurar outro lugar. Tinham ouvido falar de umas terras mais planas, mescladas de campos e florestas, distantes dali umas cem léguas a oeste. E sem dono.
Da mesma maneira, com essa mesma idéia, outros Chicos de outros lugares foram levados a fazer o mesmo. Assim começou a colonização das terras do vale do Ran-Cahy, um riozinho que corria cheio de corredeiras e lindas reviravoltas, bom de peixe.
Quase um século depois, quando tais terras já tinham a quem pertencer, outro Chico, paulista, mais chique e mais culto que os primeiros, foi ter ao mesmo destino. Vendeu o que tinha, montou na mula, ele, sua mulher e uma penca de filhos, cavalgou sessenta léguas a norte e comprou uma data, que fez virar fazenda, deu a ela o nome da santa de sua patroa, e ficava perto dos descendentes do Chico das Gerais. Que nessa altura já estavam bem de vida.
O tempo foi passando, os meninos e as meninas do Chico paulista acabaram casando com os meninos e meninas dos Chicos das Gerais. Acomodava-se, assim, o nobre-pobre e o plebeu-rico, e não foi essa a única vez que isso aconteceu no mundo...
Foram-se alguns anos, todos cresceram, se multiplicaram como mandam as escrituras, ficaram uns ricos, outros remediados, todos a viver vida simples.
Na mesma época que o Chico paulista ao Ran-Cahy teve, também lograram por lá certos exóticos, uns vindo do Lácio, outros da Fenícia, até do Sol Nascente...
Plantaram muitas culturas, ciclos econômicos endoidaram suas mentes, começaram a ver que o solo, mesmo bem tratado, ia a perder fertilidade, lembraram dos antepassados, não podiam repetir a dose.
Tinham que arrumar outra cultura que exaurisse menos, procuraram e encontraram: a solução era aquele tubérculo do tempo dos índios. Chamaram para sócio um daqueles exóticos do Lácio, o que entendia de engrenagens, elegeram os dirigentes, construíram uma industria de raspa de mandioca.
E iniciaram a plantar, uns mais, outros menos, de acordo com suas posses, e também de acordo com sua disposição. Nem todos tem a mesma disposição ao trabalho. Em geral os dispostos, espertos e inteligentes saem na frente...
Vieram os filhos, os filhos dos filhos, os filhos dos filhos dos filhos, e aquela massa indivizível foi se esboroando. Passados cinquenta anos e aquela identificação foi-se embora, certos privilégios evidenciaram, dentro do capitalismo pode aparecer o corporativismo. Assim foi.
Depois de algumas crises de grana e de cuca, e boas safras, faltou raspa no mercado. O preço foi lá prá cima, os felizes ampliaram seus negócios, os não-felizes ficaram a questionar.
E um ponto de interrogação brotou no horizonte, até que um deles lançou a primeira pedra.
E acertou.

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