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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

OS TALHERES DA LUFTHANSA

Chegamos a Buenos Aires numa tarde fria de julho e no dia seguinte seguimos a Rosário, trezentos kilometros a norte, participar de uma reunião de cooperativas agrícolas.

Ao voltarmos ficamos sabendo de uma greve da companhia aérea argentina, e nossos bilhetes eram dela. Depois de algum trabalho, conseguimos lugar num vôo da Lufthansa, que faria escala em Viracopos, na rota de Frankfurt só que com um probleminha, tínhamos que ficar mais três dias por lá, ouvindo tangos e milongas. E tomando chá na Recoleta.

Finalmente embarcamos, e como eram assentos 'de favor', só havia disponibilidade na primeira classe...

- Menos mal, de graça aceito até torre de igreja ! disse-me um companheiro de viagem, um político de bom nome, que havíamos conhecido na reunião. Homem bom de papo, o que não deixa de ser um pleonasmo.

Sentamos no avião um ao lado do outro, ele maravilhado com o luxo do Boeing de primeiro mundo. Já no alto, a atenciosa alemãzinha, rabo de cavalo no seu louro penacho, depois de um vinho branco (gelado) do Reno, serviu-nos o almoço. Meu parceiro, tagarela, não sabia onde colocar sua felicidade.

- Que talheres maravilhosos, vou levá-los, a patrôa vai adorar !

Pressentindo o problema, convenci-o que poderia, antes, pedir permissão à aeromoça. No início ele foi contra, mas depois de alguma conversa, cedeu. Fiz, então, no meu frugal inglês, o pedido à aeromoça. Na hora, fiquei sem saber se ela havia compreendido, deu uma risadinha, virou as costas. O novo amigo ficou desapontado, deve ter pensado 'essa besta foi pelo caminho mais difícil'.

- Não seria mais fácil eu ter embolsado os talheres ?

Qual não foi minha surprêsa quando vi a alemãzinha, toda sorridente, vir com dois embrulhos, um para mim, outro para o político. Ela havia entendido muito bem meu bom inglês e, em nome da tripulação, trazia um presente para nós, os talheres de prata. Limpinhos e reluzentes.

Agradecemos a amabilidade, coisa e tal. O amigo ficou radiante, colocou seu brinde na bagagem de mão.

Quando descemos em Viracopos, com cara de triunfo, ele tirou do bolso do paletó, embrulhado no guardanapo, o talher do almoço. Sujo.

Desapontado com a atitude, ri e pensei "ele fez uma coisa que estava impregnada em seus cromossomos, muito além de sua vontade, o roubo, e não posso culpá-lo..."

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